PROFISSÃO DO PASSADO – PIANISTA DE CINEMA
Introdução
NO CINEMA MUDO, A INTRODUÇÃO DA MÚSICA FOI FUNDAMENTAL. ALÉM
DE REDUZIR O RUÍDO DOS PROJETORES, O RECURSO SIMULAVA UMA ATMOSFERA MAIS REAL À
CENA REPRESENTADA. POR ISSO, NA ÉPOCA DO CINEMA MUDO, OS FILMES ERAM A MAIOR
FONTE DE EMPREGO PARA MÚSICOS INSTRUMENTAIS. ATÉ HOJE BUSCAM ROMANTIZAR A
PROFISSÃO DESSES MÚSICOS SEM IMAGINAR AS CONDIÇÕES EM QUE OS MESMOS
TRABALHAVAM.
Desenvolvimento
Os filmes nasceram mudos. Essa falta de comunicação
verbal logo revelou-se problemática, já que as salas eram lugares estranhos
para o espectador: escuras, e sentados em fileiras, assistiam apenas imagens.
Os filmes nasceram mudos. Essa falta de comunicação verbal logo
revelou-se problemática, já que as salas eram lugares estranhos para o
espectador: escuras, e sentados em fileiras, assistiam apenas imagens.
Recursos como legendas, movimentos de câmera e enquadramentos tornaram-se insuficientes. A música viria quebrar esta situação, até certo ponto, tenebrosa. Imagine a diferença entre uma sala de exibição de cinema e uma de teatro nos anos 1920. Claras, orquestradas, coloridas, sofisticadas, as salas de teatro eram completas!
(1) A primeira exibição de um filme para o público foi promovida por August e Louis Lumiére. Os irmãos Lumière produziram um grande número de curta-metragens documentais com êxito, com diversos elementos em movimento. O evento aconteceu em Paris, no Grand Café do Boulevard dês Capucines, em 28 de dezembro de 1895. Pela primeira vez um piano era tocado enquanto acompanhava as cenas.
Ao criar uma ambientação sonora ao vivo, surgiram profissionais que tocavam piano ou órgão, enquanto o filme era apresentado nas salas de exibição. Desta maneira, intensificava-se uma atmosfera mais real à cena, criando uma profundidade visual envolvente para o que era projetado, além de reduzir o ruído (alto e incômodo) dos projetores que ficavam na própria sala de exibição.
(2)Charlie Chaplin: um ícone do cinema mudo!
Tempos depois, várias exibições já contavam com o acompanhamento de grandes orquestras. Entretanto, para preencher a lacuna entre um solista de piano simples e uma orquestra maior, foram projetados órgãos próprios para o cinema. Esses órgãos tinham uma ampla gama de efeitos especiais; órgãos como a famosa Mighty Wurlitzer poderiam simular alguns sons orquestrais juntamente com uma série de efeitos de percussão, como tambores graves e címbalos e efeitos de som variando de galope de cavalos a trovões.
(3) O famoso órgão Mighty Wurlitzer: ampla gama de efeitos especiais
Com isso, muitos espectadores iam aos cinemas mudos não para assistirem ao filme, mas para apreciar a melodia tocada. E, em alguns cinemas, os próprios músicos faziam parte do show e eram utilizados de forma impressionante por seus empresários. Essa romantização da profissão esconde, contudo, as condições em que os mesmos trabalhavam.
(4) As projeções dos filmes mudos eram acompanhadas por música ambiente, executada por orquestras ou por um pianista.
Na Espanha, por exemplo, nos anos de 1914 e 1922, surgiram artigos que traziam à tona a situação dos pianistas nas salas de cinema espanhóis. Em um deles, publicado em 1914, Tio Juan e Jaime Colomer queixam-se das condições desumanas de tipo de trabalho: um pianista de cinema mudo recebia muito pouco por um trabalho exaustivo: tocava até nove horas por dia, sem descanso. Se quisesse a ajuda de outro pianista, o músico deveria pagar do próprio bolso. Um pouco complicado dado o valor de seu salário.
Em outro artigo, citam-se três tipos desse profissional: os entusiasmados (como o jovem que está terminando seus estudos), os desiludidos (como o velho, que simplesmente encerrou sua carreira) e os indiferentes (aqueles que não encontravam outro serviço a não ser o de pianista de cinema mudo e, por isso, estavam ali apenas para cumprir com o que sabiam fazer).
Entretanto, em meados da década de 1930, o interesse desperto pelos produtores de cinema tornou a relação música/ imagem mais íntima e a utilização de recursos de gravação, introduziu a tecnologia devastando a profissão de pianista do cinema mudo.
CURIOSIDADES
Além da baixa remuneração, muitos pianistas eram colocados numa incômoda posição: atrapalhavam a visão do público. Alguns irritados, atiravam avelãs, castanhas, laranjas ou bolas de papel. Também havia os que não gostavam da música tocada por considerá-las “monótonas”. Então, ouvia-se a raiva verbal de alguns espectadores descontrolados.
Em alguns países, como o Japão, além da música ao vivo, existia também obenshi, um narrador que fornecia – ao vivo – comentários e vozes para os personagens. O benshi tornou-se um elemento central no filme japonês fornecendo, também, a tradução para os filmes estrangeiros. Sua popularidade nos filmes mudos persistiu até os anos 1930.
O valor do ingresso era equivalente a 50 centavos.
Feito por João Victor Gregolon Marquardt
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